b
O
uso de bebidas alcoólicas tem se tornado cada vez mais comum, fato extremamente
prejudicial à saúde da população. Não é segredo para a maior parte das pessoas
que o abuso de álcool pode elevar o risco para doenças hepáticas e alguns tipos
de câncer, contudo, os malefícios causados por esta substância são, na verdade,
ainda maiores. A revista Saúde de Fevereiro de 2013 publicou uma reportagem
intitulada “O peso do álcool”, que abordou o efeito da ingestão alcoólica sobre
o aumento de peso corporal enfatizando o alto valor energético fornecido pelo
álcool (7 kcal/ml). Esta abordagem, apesar de correta, não explica todos os
efeitos negativos do alcoolismo sobre a saúde humana.
O
álcool inicia seu “estrago” no organismo devido a sua estrutura molecular que
penetra e se difunde rapidamente pelas células humanas. Tal característica
confere a este elemento a capacidade de lesionar as mucosas oral, esofágica,
gástrica e intestinal, aumentando risco para neoplasias e lesões inflamatórias.
Após
sua absorção, o álcool é metabolizado predominantemente no fígado por duas
principais vias, embora existam outras não menos importantes. Uma delas
consiste em transformar o etanol em acetaldeído por meio da enzima álcool
desidrogenase. Esta transformação demanda grande quantidade de vitamina B3 na
forma de NAD, reduzindo a biodisponibilidade deste nutriente para manutenção
dos níveis glicêmicos, respiração celular e utilização de gorduras como fonte
de energia. A segunda forma de metabolização é mais frequente em etilistas crônicos
e na ingestão moderada a alta de álcool. Consiste na transformação do etanol ao
mesmo acetaldeído por meio de uma enzima do citocromo P450. Esta via produz
grande quantidade de radicais livres, que por sua vez, lesionam as células,
aumentando o risco para neoplasias, doenças hepáticas e envelhecimento precoce,
entre outros malefícios. Nutrientes antioxidantes como vitaminas C e E, zinco e
selênio têm suas demandas aumentadas para neutralizar os radicais produzidos. A
expressão aumentada de enzimas do citocromo P450 pode também ativar toxinas
carcinogênicas.
É
sabido que a ingestão alcoólica exagerada depleta as vitaminas do complexo B, o
que pode levar a alterações neurológicas como perda de memória pode ser causada
por deficiência das vitaminas deste complexo. As vitaminas lipossolúveis (A, C
E e K) também são afetadas pela inapetência, lesão hepática e esteatorréia
causada pela reduzida secreção biliar. O metabolismo ósseo, a função
antioxidante, a coagulação sanguínea, a saúde ocular e outras funções podem se
apresentar comprometidas por deficiência de tais vitaminas. Minerais como cálcio, zinco, selênio e
magnésio podem apresentar absorção reduzida, assim como utilização e excreção
aumentadas. São exemplos de ações de tais minerais a participação no sistema
antioxidante, formação óssea, contração e relaxamento muscular, e formação de neurotransmissores. Sendo
assim, o alcoolismo diminui a disponibilidade de praticamente todos os
micronutrientes para as funções normais do organismo, afetando este como um
todo.
A
ingestão alcoólica é prejudicial à saúde, apesar de ser frequentemente
estimulada pela mídia através de propagandas e de ser tratada por esta como
segura e até benéfica quando realizada de forma moderada. O conceito de
moderação, porém, é subjetivo, e muitas pessoas que consomem quantidades
elevadas. As pesquisas científicas que demonstraram algum benefício da ingestão
de bebidas alcoólicas foram realizadas com quantidades mínimas, não condizentes
com a realidade da nossa população.
Referências
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